segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Safra recorde, de água


A campanha das cisternas familiares tem origem no município de Campo Alegre de Lourdes, no sertão baiano. Em 1990, lideranças locais conheceram na região de Ouricuri, PE, a cisterna de placa, reservatório construído ao pé da casa, feito de placas de cimento, parcialmente enterrado no chão. Já existiam outros tipos de cisternas no semi-árido, feitas com tijolo e cimento, ferro e cimento ou barro cozido, mas todas apresentavam algum tipo de deficiência, como vazamentos, por exemplo, ou eram caras demais.

Reunidos no povoado de Malhada, com apoio da CPT - Comissão Pastoral da Terra, os trabalhadores buscavam uma resposta que servisse a todos, de forma massificada, e não soluções localizadas. Então, com base no que aprenderam em Ouricuri, começaram a incentivar a adoção em massa das cisternas e passaram a construí-las, com dinheiro doado pela Oxfam, entidade assistencial da Inglaterra. Logo depois, trabalhadores rurais de outros municípios da região, como Pilão Arcado e Remanso, aderiram e passaram eles também a viabilizar meios para construir outras cisternas. Como uma onda, vereadores e prefeitos começaram a discutir a questão e apresentar projetos tentando controlar a construção.

Em 1998, o bispo de Juazeiro decidiu fazer da experiência uma prioridade diocesana e criou a campanha 'Até 2004 nenhuma família sem água - adote uma cisterna'. A verba obtida vai para um caixa comum, para onde as famílias beneficiadas devolvem, como puderem e no prazo possível, algum recurso para beneficiar outras famílias. A idéia vingou, a campanha cresceu, ganhou a adesão de todas as pastorais sociais da CNBB - Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, e acabou somando-se a outros programas em curso. A proposta de construção de 1 milhão de cisternas nasceu no Fórum Paralelo Contra a Desertificação, realizado na capital pernambucana. Aprovada pelo MMA - Ministério do Meio Ambiente, transformou-se no que é conhecido oficialmente como Programa de Formação e Mobilização para a Convivência com o Semi-Árido - 1 Milhão de Cisternas para o Semi-Árido Brasileiro (P1MC), conduzido sob coordenação da ASA - Articulação do Semi-Árido.

Depois que a ASA consolidou o programa, a Cáritas Brasileira, a Comissão Pastoral da Terra Nacional e a Fian/Brasil lançaram uma campanha internacional buscando angariar fundos no exterior. Além disso, lançaram o livro Água de Chuva: o Segredo da Convivência com o Semi-Árido, editado em português, inglês e alemão, contendo informações e reflexões sobre a realidade na região. O deserto invoca o deserto e a água, a água. Se uma seca parece atrair outra seca maior na seqüência, acostumando paulatinamente a terra ao flagelo, a água pode reverter esse processo, recuperando o solo, colorindo plantas, flores e frutos, trazendo de volta bichos e homens. Água é vida.

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